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Marcos Aurélio Bassolli Alves[1]
Nosso pressuposto, fundado na nossa vivência, é de que a percepção da realidade e o conhecimento apresentam-se fragmentados na Escola nos seus diferentes conteúdos e disciplinas. Ao mesmo tempo em que reconhecemos que o avanço do conhecimento é vital para o aumento da produção [e da mais-valia], acreditamos que o acesso às Novas Tecnologias de Informação e Comunicação – NTIC’s pode significar uma mudança no nosso aparato de percepção e concepção[2] da realidade e apontar para uma mudança nas práticas rotineiras e nos hábitos e atitudes dos professores-educadores e dos alunos. “O conhecimento não é fragmentado, é interdependente, interligado, intersensorial. Conhecer significa compreender todas as dimensões da realidade, captar e expressar essa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral. Conhecemos mais e melhor conectando, juntando, relacionando, acessando o nosso objeto de todos os pontos de vista, por todos os caminhos, integrando-os da forma mais rica possível”.[i]
Tecnologia educacional – tecnologia na educação
A tecnologia educacional, como campo de estudo, tem seu desenvolvimento na primeira metade do século passado através do emprego de materiais visuais. A utilização de meios audiovisuais com finalidade educativa constitui o primeiro campo da tecnologia educacional, onde a pesquisa e o estudo das aplicações de meios e materiais ao ensino serão constantes nos trabalhos.
A tecnologia educacional, denominada ciência do planejamento do ensino, se configura então como a aplicação operacional das disciplinas (psicológicas, curriculares e filosóficas) para a melhoria e eficácia do processo ensino-aprendizagem.
Nos anos 60, a revolução eletrônica dos meios de comunicação (rádio e tv) contribuirá decisivamente, devido ao seu alcance territorial e comunicativo, para as mudanças nos costumes sociais, na maneira de fazer política e até de se perceber, através dos programas jornalísticos, a economia e a realidade nas suas mais diferentes escalas.
Dessa forma, a tecnologia educacional inicia a década de 1970 consolidando-se como uma disciplina científica que teria o potencial de regular e prescrever a ação educativa. Para a Comissão de Tecnologia Educacional dos Estados Unidos, a Tecnologia Educacional deveria ser entendida como uma “maneira sistemática de projetar, levar a cabo e avaliar o processo de aprendizagem e ensino em termos objetivos específicos, baseados na pesquisa da aprendizagem e na comunicação humana, empregando uma combinação de recursos humanos e materiais para conseguir uma aprendizagem mais efetiva”. (Sancho, 1997)[ii]
Na década de 1980, a UNESCO formulou uma dupla concepção para o conceito de tecnologia educacional avançando ainda mais no seu entendimento: primeiro ela seria concebida como o uso para fins educativos dos meios originados da revolução das comunicações, englobando meios audiovisuais, TV, computadores e outros tipos de hard e software. A outra concepção, mais abrangente, considera o modo sistemático de perceber, conceber e vivenciar o conjunto de processos de ensino aprendizagem como a base da Tecnologia Educacional que se propõe a usar os recursos técnicos e humanos para uma maior eficiência.
As tecnologias educacionais avançam inseridas agora nas NTIC’s onde passam a contar com dispositivos projetados para armazenar, processar e transmitir, de modo flexível e não linear, uma grande quantidade de informações, sons e imagens. Nesse momento, é importante [re] afirmar que os meios em si não constituem toda a tecnologia educacional. Nem mesmo o termo tecnologia educacional é consenso, muitos preferem o termo tecnologias na educação.
Para além dos termos, mais do que consumir criticamente as mídias, podemos produzir as mídias. Até que ponto o “saber fazer” um jornal, quais são suas partes e como se faz sua diagramação pode interferir na nossa absorção das notícias cotidianas? Queremos investigar como essa e outras tarefas como construir um blog, se conectar na Internet, manter um e-mail e estudar nesse ambiente pode inserir a educação [a Escola Pública] na rede de comunicação e informação da sociedade atual.
Acreditamos e queremos investigar também como podem auxiliar na consolidação e constituição do conhecimento, promover mudanças de hábitos e atitudes e também como essa inclusão digital possibilita a inclusão e expansão digital da Escola Pública, como um objeto – fixo do espaço, ligada à rede de comunicação e informação.
A Escola e as tecnologias de informação e comunicação
Para Santos, o espaço é um conjunto indissociável entre fluxos e fixos, nessa direção, acreditamos que a Escola Pública é um ponto, um fixo[iii] – como objeto no território, que pode ser um importante elo nas relações de fluxo de informação e comunicação na sociedade atual.
Ao se tornar um nó na rede, através da sua inclusão digital, a Escola Pública pode envolver não somente os seus alunos, funcionários, Professores e também os pais, mães, irmãos, tias e quase toda a sua comunidade. Nesse sentido, ela é muito importante para ampliação do percentual de universalização da inclusão digital e dos seus desdobramentos, que já são notados, tanto no espaço e no tempo [cotidiano], quanto no mercado do [novo] mundo do trabalho.
Para Ana Clara T. Ribeiro o atual sistema de comunicação faz “parte do aparelho institucional criado para o desenvolvimento de estratégias de controle do território e, em sua face econômica como elo articulador e agilizador dos mercados. Para ela a “psicoesfera” consolida “a base social da técnica e a adequação comportamental à interação moderna entre tecnologia e valores sociais”.[3]
Nessa direção, John Naisbitt afirma que “as telecomunicações e a sua infraestrutura põem as pessoas em contato umas com as outras. Elas exercerão um impacto extraordinário sobre o clima social, político e econômico na comunidade global”. A revolução das telecomunicações é, realmente, uma questão de permitir um acesso maior às comunicações. O constante avanço técnico dos equipamentos e da capacidade das redes de transmissão e comunicação aponta para isso.
Concomitantemente, “nos dias de hoje, é inegável a importância da discussão sobre as tecnologias de informação e comunicação e seus impactos sobre os processos de constituição de conhecimentos, valores e atitudes. Nesse contexto, a escola necessita (re)pensar o seu papel na sociedade, buscando (re)significar as práticas pedagógicas cotidianas, à luz de novos paradigmas” [iv] Os professores e a comunidade escolar estão diante de um novo desafio. Vivemos as adversidades decorrentes de fatores estruturais e de gestão do t&e (Tempo e Espaço) que muitas vezes são as pedras no nosso caminhar.
Por isso, vivenciamos a tecnologia educacional num sentido mais abrangente, isto é, como uma metodologia com fins específicos que utiliza os objetos do meio técnico-científico-informacional, é articulada com o projeto político pedagógico e adequada às práticas pedagógicas dos professores. A tecnologia educacional é um meio para o objetivo final que é uma educação de qualidade e inclusiva. A escola é o melhor lugar do mundo! O que precisamos fazer para que isso realmente aconteça?
“Para isso, o educador deve conhecer as tecnologias de que dispõe para seu uso no processo pedagógico, a fim de subordiná-las aos seus interesses, fazendo da educação um fim e da tecnologia um meio, considerando os tipos de recursos disponíveis para servir aos objetivos educacionais e integrando teoria e prática, atividade intelectual e manual, processos e produtos do desenvolvimento tecnológico aos resultados pretendidos”.[v]
Nos dias de hoje, é inegável a importância da discussão sobre as tecnologias de informação e comunicação e seus impactos sobre os processos de constituição de conhecimentos, valores e atitudes.
Por outro lado, inicialmente o uso do computador na educação procurava imitar o que acontecia na sala de aula – era o conceito de instrução programada, hoje, depois de passar por diferentes etapas, o conceito de ensino por computador incorpora toda a gama das NTIC’s tornando-se uma ferramenta educacional de complementação e aperfeiçoamento nas condições de aprendizagem. Como ferramenta educacional o computador não é só o instrumento que ensina ao aluno, mas o meio com o qual o aluno desenvolve algo
O Professor, além de detentor do conhecimento, visão dita tradicional, passa a trabalhar também com o conceito de que o estudante deve ser ensinado a buscar e a usar a informação para a consolidação e constituição do conhecimento. Ao mesmo tempo começamos a perceber que nós mesmos precisamos e podemos utilizar essas ferramentas no chão da escola e da sala de aula.
A perspectiva de tecnologia educacional que se quer valorizar favorece um processo que conduz à reflexão do homem sobre a sua realidade. Nesse sentido, é também trabalho do Professor promover a reflexão constante do estudante sobre a sua inserção na sociedade, seu lugar no mundo, desde a sua comunidade, o seu lugar de vida, ampliando seu conhecimento e consciência crítica para se situar no mundo.
Esse é o convite que faço a todos, o convite para a construção colaborativa de projetos e práticas de ensino que utilizem os equipamentos presentes no Laboratório de Informática [Educativa], sala de aula compreendida como um espaço interdisciplinar de pesquisa e prática de métodos, instrumentos e recursos didáticos voltados para a inclusão digital, informação, comunicação e consolidação da cidadania.
Acesse o nosso blog e partisse do nosso grupo virtual de discussão, informação e aprendizagem colaborativa, instrumentos que permitem um interferência nas limitações impostas pelo atual modelo de gestão do tempo&espaço da escola e podem contribuir para a realização dos nossos desejos e projetos de construção de uma educação pública de qualidade e de uma escola prazerosa de se estar e trabalhar.
[1] Professor e Orientador Tecnológico no Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro e na Rede Municipal do Rio de Janeiro. Texto apresentado aos Professores e Direção do CEPCM através da publicação no blog do colégio www.cepcm.blogspot.com e texto enviado para o e-mail do grupo no Windows Live® cepcm@groups.live.com em março 2011.
[2] Radicalmente inspirado “A produção do espaço” de H. Lefebvre
[3] Ana Clara T. Ribeiro “Matéria e espírito: o poder (des)organizador dos meios de comunicação” Jorge Zahar, 1991 pp. 44-45.
[i] Novas tecnologias e mediação pedagógica. J.M. Moran, Marcos T. Masetto e Marilda Aparecida Behres. Papirus – 9ª edição
[ii] Sancho, J.M (org) Para uma tecnologia educacional. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1997
[iii] A referência é a Milton Santos, aos fixos e fluxos e formam um lugar, em “A natureza do espaço” 3ª edição, Hucitec, 1999.
[iv] Multieducação. Temas em debate. Mídia e Educação. SME. Pág. 5.
[v] NTE para a saúde. Maurício De Seta. Laboratório Informática Fiocruz.
Publicado por mbassolli@prof.educacao.rj.gov.br – Prof. Marcos Bassolli