sábado, 12 de janeiro de 2008

A queda na qualidade da Educação Pública no Rio de Janeiro

Saudações Geográficas aqui da Cidade maravilhosa de São Jorge - o Guerreiro e de São Sebastião do Rio de Janeiro, Prezados Leitores, O histórico sucateamento técnico, a inércia na utilização e a ausência das, já não tão novas assim, TIC’s, a desvalorização monetária do trabalho do Professor e a submissão da discussão pedagógica aos ditames de uma política educacional que está interessada em “aliviar” o sistema, impondo a aprovação automática, contribuem para explicar a queda da qualidade da Educação Pública. Sem dúvida que podem explicar, porém existem outras questões que só aqueles que estão lá na sala de aula, na regência de turmas durante quatro anos no EF que se somam a mais três do EM, podem apontar. A grade curricular do Município do Rio de Janeiro estipula para os Professores(as) de Geografia, História e Ciências, três tempos de aulas por semana por turma. Já os Professores(as) de matemática e português trabalham, em média, com cinco tempos/turma, até ano passado eram seis. Os outros tempos estão destinados para EF, Artes e agora para o CEST (centro de estudos para o aluno, onde um Professor(a), muitas vezes é o professor de português e matemática, vai trabalhar com essas aulas de CEST.. (fui extremamente generoso na definição do cest). Na prática essa distribuição de tempos implica que o Professor(a) de Geografia vai trabalhar com quatro turmas e o de português com duas. Duas vezes mais alunos, duas vezes mais trabalho de correção de tarefas e maiores dificuldades na dia-a-dia, mas o mesmo salário pois o tempo de trabalho concreto dos dois professores é igual. Mas não é só esse detalhe que discute o que é relativo na jornada de trabalho dos Professores, a redução de tempos dessas disciplinas é na essência caduca, pois Geografia, História e Ciências também trabalham com os conteúdos da matemática e da língua. As aulas de Geografia também contribuem para o desenvolvimento de habilidades e competências. Então, por que essa diferença? Por que a política pedagógica não rompe com a concepção de que quem ensina português é o Professor de língua portuguesa e quem ensina matemática é o Professor de matemática? A quem isso interessa? Mas a questão é maior ainda e é isso que temos que revelar, ou seja, há também uma concepção, inserida na implantação e desenvolvimento das propostas político-pedagógicas, que procura insistentemente e metodicamente desqualificar a Escola Pública. A Escola Pública é para o pobre continuar a ser pobre e trabalhar como pobre? É para mantê-lo subserviente e ignorante frente aos seus direitos e deveres como cidadão. Como já disse Pedro Demo, o sistema não teme o pobre que tem fome, teme o pobre que sabe pensar e refletir. Então é isso, “a Geografia [que nós sabemos] - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra!” Mas não é a guerra das armas ou das jihads é a guerra da consciência: do perceber – conceber e poder representar o seu viver. É para poder ter uma noção de espaço e tempo além do interior e exterior. A geografia faz mal ao sistema, pois contribui em muito para que o aluno/cidadão possa se situar no tempo e no espaço? O conhecimento é muito valioso, essa é a nossa concepção, as disciplinas de história e geografia têm muito a contribuir para que os alunos percebam a sua identidade e a sua localização no tempo e espaço. O ensino da Geografia no EF e no EM é potencialmente revolucionário no sentido de permitir ao aluno a discussão e a concepção das questões inerentes ao [seu] espaço. Sejam elas até mesmo separadas pela velha dicotomia da geografia humana ou física. Hoje, “como nunca antes nesse país”, ela possibilita a percepção do espaço e dos seus objetos concretos (seja um rio, objetos numa favela ou um rio poluído dentro de uma favela) e dos diferentes fluxos que cortam e marcam esse espaço (seja uma linha de transmissão de energia, seja a realização de uma feira na rua ou seja no vai-e-vem das pessoas diariamente. O ensino da Geografia vai trabalhar com a abstração e as diferentes relações que se estabelecem entre esses objetos e seus fluxos para possibilitar [pelos alunos] a elaboração das suas representações, inclusive em espaço/tempo mais ampliados. Do local ao global. Um fato que vem acontecendo nas últimas duas décadas é a diminuição do tempo de permanência do aluno e do Professor na escola através da diminuição da grade curricular e dos tempos/horas de aulas diárias. Não se discute a implantação do turno integral. Não se promove a implantação gradual do turno integral. Não se cria ou transforma uma escola por ano para o turno integral. Por que será? Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem que é resultado de uma integração dialética entre o instrutivo e o educativo cujo propósito essencial é contribuir para a formação integral da personalidade do aluno/cidadão fica somente nas “costas” do Professor(a). O que eu quero afirmar é que instruir e educar, no processo ensino-aprendizagem atual das maiorias das escolas, está sendo colocado como uma tarefa do somente do Professor(a). E isso com turmas de mais de 40 alunos! E isso com um grande percentual de Professores ainda carentes de serem capacitados continuamente. No modelo atual, de 4 horas e meia de permanência do aluno na escola, a própria escola e o seu espaço-tempo estão cada vez mais se distanciando de uma educação integral: onde educar e instruir sejam as metas a serem alcançadas. Uma evidência disso é a concepção do uso da informática [educativa]. A prática concebida pelas políticas educacionais, em todas as esferas de governo, é “equipar” as escolas com laboratórios e “fim de papo”. Com isso acreditam que estão promovendo a inclusão digital e que vá proporcionar uma mudança no processo ensino-aprendizagem e na própria qualidade da educação. Acreditam que isso é uma escola “moderna”. Não é bem assim! Não basta equipar uma escola com um laboratório de informática. Aliás, um laboratório de informática na escola é um “elefante para matar formigas”. Junto dele deveria vir a palavra “educativa”, i.e., “laboratório de informática educativa”. O LIED é uma sala de aula que além de contribuir para a consolidação e constituição do conhecimento é também uma sala de aula que agrega e converge as mídias(rádio-escola, jornais, imagens, etc) da escola além de capacitar professores e alunos para o uso da tdic´s (tecnologias digitais de informação e comunicação). São três possibilidades concretas e é preciso que haja um Professor(a) capacitado para gerenciar e promover o seu uso dentro desse contexto educativo. Porém, não é isso o que vem acontecendo. Saudações, Marcos Aurélio Bassolli Alves

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